terça-feira, 16 de agosto de 2011

INSUBMISSÃO


Sou espera!
A figura/homem audaz contradiz a minha condição de esperante.
Espero, espero e, mais um dia, espero!
Não crio ilusão –
não sou dado ao platonismo –
me faço no concreto,
por isso espero.
Insisto na desobediência -
não me corrompo,
não sou o que está vigente,
o que é tendência ou ditado -,
duramente aceito meu lugar de diferente,
de exôtico,
de intenso,
de incompreendido,
de apaixonante apaixonado,
de ser mais do que o outro espera,
então espero.
Na insubmissão construo minhas esperanças,
traço caminhos,
crio asas,
me deito com o conhecimento intuindo acordar com a sabedoria necessaria para saber esperar.
Insubordinado me ergo todas as manhãs -
coloro os dias,
dou sabor a água,
lanço bolhas de sabão no ar,
faço surgir o arco-íris no fim de uma tarde fria -,
e a noite sempre,
r e p e t i d a m e n t e,
encontro sozinho me desfazendo em lágrimas,
pois sei que quando um novo amanhã chegar,
insubordinadamente
irei levantar-me para de novo
esperar,
esperar,
esperar.


à Conceição Evaristo
por escrevivenciar
“Insubmissas Lágrimas de Mulher”.

15 de agosto de 2011-08-16
evandro nunes


quarta-feira, 29 de junho de 2011

ópio

O cheiro avassalador que emana do seu ãmago traça meu caminho, incandesce meus olhos, ritma meu pulso, desestrutura meu raciocinio, domina minha alma.

25/06/2011
evandro nunes

TRAVESSIA

De longe se vê a multidão vindo amontoada em pequenos espaços. No antes eram reis, rainhas, pescadores, ferreiros, donos de terras, lavradores, curandeiros, griot’s, pai de familia, guerreiros; agora sem distinção, apenas corpos negros subjulgados, Maltrapilhos, Maltratados, sem familia, acorrentados, sem liberdade, míseros escravos. Nos Negreiros que avançam a dor aguda unissona era amordaçada, a loucura livremente caminhava, tomava corpo, ganhava força, e ,a mãe com o filho no colo, pulava. Porém nada abalava, os Negreiros eram firmes, o chicote no ar ressoava e o trajeto avançava. Os Orixás atónitos, alguns choravam, reunidos no Orum criando estratégias para a batalha que começava. De decisão tomada a proteção aos seus filhos se iniciava: Yansã o vento soprava; Yemanjá nas suas águas levava; Exu na proa guiava; Omolu aos doentes curava; Nanã as dores amenizava; Oxalá, Oxossi, Xango, Ogum, Oxum, Oxumaré, Tempo em terra firme esperavam. Ao seus filhos não abandonavam, sabiam que eram fortes, bravos, dedicados, e, em questão de tempo, uma nova nação, por eles, seria recriada. A travessia, dura, fria, terminava. A primeira batalha fora vencida, a segunda, em terras nativas, apenas começava. No Orum os Orixás reunidos, olhavam para seu povo aguerrido e de prantidão esperavam.

25/06/2011
evandro nunes

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

PARA VOCÊ


“ O trabalho faz parte da minha vida. E a falta de alguém para amar, faz com que eu trabalhe mais e mais. E com isso sempre voltar cansado para casa, louco para encontrar com minha família, ri um pouco da vida, depois tomar banho e dormir. Um dia ao ir para casa apressado, num ônibus que nunca havia pegado, você guardou um lugar para mim ao seu lado. Era quase carnaval. Te ofereci paçoquinha e você me convidou para ir a uma festa. Descemos no meio do caminho. A vida proporcionou o nosso encontro e fez com que durante vários momentos, 3 anos, os nossos olhos brilhassem de alegria por estar perto um do outro, por falar com o outro, por lembrarmos um do outro, por ter o carinho do outro.


Hoje o brilho intenso de alegria que sai dos seus olhos não é mais para mim. Há um outro alguém que acendeu o fogo da paixão em você. Que tem te feito brilhar, cantar, pular de alegria e, em alguns momentos, apenas pensar e desejar que o dia, a semana, acabe logo para que vocês possam se encontrar e se amar. Deveria sentir raiva desse outro alguém, mas ao invés disso, sinto uma admiração e um respeito. Gosto muito de você, por isso os meus olhos ainda enchem de alegria e brilho por saber que você está feliz, que está apaixonado, que esta bem. Desejo que seja sempre apaixonante e que vocês, Joni e Joni, vivam uma eternidade apaixonados um pelo outro. Fico por aqui. E você... a gente se encontra por esse mundo afora meu... amigo.”

Mario Quintana

‎'NUNCA DIGA TE AMO SE NÃO TE INTERESSA.
NUNCA FALE SOBRE SENTIMENTOS SE ESTES NÃO EXISTEM.
NUNCA TOQUE NUMA VIDA, SE NÃO PRETENDE ROMPER UM CORAÇÃO.
NUNCA OLHE NOS OLHOS DE ALGUÉM SE NÃO QUISER VÊ-LO SE DERRAMAR EM LÁGRIMAS POR CAUSA DE TI.
A COISA MAIS cruel QUE ALGUÉM PODE FAZER É PERMITIR QUE ALGUÉM SE APAIXONE POR VOCÊ QUANDO VOCÊ NÃ...O PRETENDE FAZER O MESMO.'
Quintana

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

PEDAÇOS DE MIM

O tempo me fascina por ser eterno e efêmero. Em um dos textos de Becket, ele diz que com o passar do tempo não nos reconhecemos mais no passado, nos desejos daquele momento. Hoje me vejo, ou melhor, vejo fragmentos de mim e ainda me reconheço - meus desejos, minhas carências, minhas aflições, meus sonhos - mesmo sabendo que sou outro. Bom queria dividir com vocês estes pedaços de mim.


Beijos,


evandro nunes


Menina-pirraça



Lá vem ela –

Sem riso,

Com graça, -

Passo firme,

Quase avó,

Porém ‘enxutassa’.

Lá vem ela,

Hoje ‘cumadre’,

Antes aprontava:

Puxava-nos os cabelos;

Os braços, beliscava;

Boa pontaria - pedras voavam;

Garfada na perna;

Ferro quase na cara;

Copos voando;

Paciência...

Quase Nada.



Lá vem ela

Menina-pirraça:

Primeira filha,

Primeira neta,

Sobrinha adulada,

Muito franzina,

Cabelo ‘sararava’;

Menina esguia?

- não!

Barriga gestada.



Lá vêm nós –

Com risos,

Com graça –

Uma avó aos quarenta,

Outra menina /mãe antecipada,

Eu, tio avoado

Ou

Avô que tiava?

‘Vixe” que coisa confusa...

ah! Aline

essa peça foi bem pregada



às minhas meninas: Eliane (irmã), Aline (sobrinha) e Eduarda(sobrinhaneta)

evandro nunes

agosto de 2003





AMORES INVISIVEIS





Então estamos aqui:

Pés no chão,

Olhares atentos.

O trem apita!

Você ...

Na gravação me fala coisas lindas que retratam o agora:

- Agora tenho que ir, mas eu te amo.

... vai.

Então estou aqui:

Pés no chão,

Um olhar atento.

O trem apita. Para.

Você...

Na gravação você diz:

- hoje eu não posso ir,

Mas eu te amo.

... não veio.





evandro nunes

2004.







PRETOS E VELHOS DA LEGIÃO



Clemência, Oscar, Paulo, Ivamar, Cândido, Maria Luiza, Alquatume, Zumbi, Chico Rei, N’zinga, Lelia, todos ali, formando uma legião. O que me faz querer sê-los? A sabedoria? A bravura? A dignidade? A determinação? O desejo pela liberdade? O amor pelos seus? Quero sê-los? Trago na tez toda uma historicidade que me possibilita, aguça meu desejo, ferve meu sangue, me faz ter ginga, me faz ser. Prostrados ali, acima de mim, estão estes pretos e velhos que regem minha cabeça, que comandam minhas tempestades, que acalmam meus rios e mares, que curam minhas doenças, que me fazem senhor das florestas, que guiam minha flecha única e certeira, que abrem meus caminhos, que me conduzem por toda uma transcendência. Ali, acima da minha cabeça, no meu peito, nas minhas costas, estão eles, pretos e velhos, protegendo-me para que eu vença o banzo desta rota atlântica não escolhida. São eles que me dão forças para erguer-me diante de todas as atrocidades cometidas contra meu povo no antes e no agora. É a imagem dessa legião enraizada nas suas crendices, nos seus ritos, nos seus cantos, nas suas adivinhações, nos seus temperos, nas suas rodas, nos seus jongos e lundus, que me faz querer ser essa cor preta e a carregar essa legião de pretos e velhos donos dos meus passos, dos meus movimentos, de todos os meus sentimentos e da minha ancestralidade.









evandro nunes,

25 de julho de 2007.





CAÇADOR DE PIPAS







Hoje não quero brincar de ser!

Não quero ver a pipa azul correr no espaço,

guardando o segredo que é meu.

Não quero sonhar com o novo,

tendo o velho encravado em mim.

Não quero propor mudanças,

quando o que vejo a cada dia é um retrocesso.

Não quero seguir caminhando,

se não dou conta de mim.

Não quero continuar sorrindo,

quando o que quero é gritar e dizer que estou cansado de tudo.

Não quero me fazer de lúcido,

quando a loucura já me domina

e me faz vagar pela noite a procura de não sei o quê.

Não quero ser apaixonante ,

quando a solidão e a espera me secam.

Não quero ser notável,

quando sou ofuscado pelo que sou.

Hoje não quero brincar,

quero ser!



À Regina Lúcia, Valber Palmeira e Jair Conceição,

por me deixarem ser.
06/02/08

sábado, 22 de janeiro de 2011

CESSO!

Cesso!
Dessa boca não sai nenhuma rima,
Nesse corpo já não há mais gíria,
Esse olhos já não tem sabor.
Cesso!
As cadentes,
A Nova,
As rosas,
O Gira-sol.
Cesso!
A urgência de um amor me dói!
Não quero mai suportar,
Cesso!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011