terça-feira, 23 de junho de 2009

Garoto de Programa


GAROTO DE PROGRAMA

Você procura?
Olhe-me.
Você deseja?
Tenha-me.
Você quer?
Pague-me,
E serei seu.
...
Me exponho na multidão
A sua procura
Vou em guetos,
Pontos,
Sobre os pontos,
Pontos de encontros
E vejo-o a minha espera:
Jeans surrado,
Camisa transparente,
Sexy....
Sensual.
Com um olhar que diz:
- Eu sou seu,
Pague ou vá para os banheiros públicos
Olhar os pintos murchos dos que mijam,
Se excite
e
use a garrafa de sua Champagne.

...
Eu desejo,
Procuro.
Eu tenho,
Olho.
Eu quero,
Pago.
...

São 40 reais,
Não beijo na boca
E sou somente ativo.

...
Eu quero,
Procuro.
Eu desejo,
Olho.
Eu tenho,
Pago,
E uso-o como objeto e meu prazer.
...
Nãããããããããããããããããããoooooooooooooooooooo
...
OCORRÊNCIA: Foi encontrado morto, nu, num quarto de hotel um senhor distinto, pai de familia. O menino S.C. 16 anos é o único suspeito

quarta-feira, 3 de junho de 2009

HÁ DIVERSIDADE?

Hoje no seminário dDiversidade Cultural, fico me perguntando: há diversidade cultural? Em outros tempos, já fazia essa discussão com o Observatório da Diversidade Cultural, que tudo, as vezes, penso não passa de balela. Não queremos o diverso, pois não cosneguimos respeitar as diferenças, não conseguimos respeitar a cultura do outro, não conseguimos respeitar o outro que é mulher, que estar acima do peso, que usa óculos, que é homossexual, que é portdor de necessidades especiais, que é... A diversidade, tenho percebido, do ponto de vista da globalização é apenas um forma de se criar uma hegemonização da cultura dominante, de forma que todos passam a consumir produtos materiais e imateriais dos hegemonicos.
Ouvindo todos, neste primeiro dia de seminário da Diversidade Cultural, algumas coisas parecem bacanas, mas que na prática temos percebido que não tem funcionado. Mas acho de igual importância que o Brasil, e todo o seu governo tenha se empenhado para que esta discusão faça parte da pasta de uma das secretárias. Ainda sobre esse tema somente Alexandre, o Grande, quem verdadeiramente promoveu a Diversidade Cultural.

terça-feira, 2 de junho de 2009

O Teatro Negro no Brasil e seu legado à cena paralela.


O Teatro Negro no Brasil e seu legado à cena paralela.
Por Evandro Nunes(1)

O estar em cena tem conotações variantes, mas que nos levam a um mesmo sentido: ser o foco da atenção. O Teatro Negro, no Brasil, na sua existência tem almejado esta atenção, mas a ele apenas - e não por incompetência de seus atores, e sim por um preconceito velado – está apenas resguardado o direito à cena paralela.
O TEATRO NEGRO E ATITUDE prestes a completar 15 anos de existência, o que acontecerá no próximo dia 13 de junho, busca refletir sobre o que é o estar em cena para este grupo surgido no Movimento Negro Unificado (MNU), cujos princípios estão calcados em ações que antecedem até mesmo ao MNU.
Diferente do que diz a história do teatro no Brasil, ou melhor, o que não diz essa história, o nosso país teve elementos importantes na construção de um Teatro Negro. Por não ser dito, às vezes, nos fazem pensar que o corpo negro passa a ocupar os palcos nacionais somente no fim do século XX, quando na verdade a cena teatral brasileira ganha seus notórios artistas e companhias em meados dos anos 20. É certo que vínhamos de uma busca de identidade nacional, suscitada pela Semana de Arte Moderna em 1922, encabeçada por Oswald e Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, dentre outros tantos artistas e intelectuais que conclamavam uma arte e identidade genuinamente brasileiras. Ainda que diante da busca de uma “cara brasileira”, a arte oriunda e feita por negros não teve seu espaço neste movimento “modernista” e antropofágico. Cabe ressaltar que no Movimento de Modernidade e/ou avanço do país, a população e sua arte negra eram considerados pela elite branca como entrave ao progresso brasileiro tão esperado e arquitetado pela sociedade.
Não sendo contemplado pelo Movimento da Semana de 22, e seguindo ainda uma tendência estrangeira, João Candido Ferreira (1897-1956), artista negro conhecido no mercado revisteiro(2), faz surgir a Companhia Negra de Revista, que teve, segundo Barros (citado por Rossi, 2007), “referências mais imediatas nos modelos cênicos de teatro norte-americano, que após a primeira guerra lograram grande êxito na Europa e, em particular, na França”. A performance erotizante dos artistas afro-americanos ganhou os parisienses. A ‘Revue Négre’ foi a grande referência da Companhia Negra de Revista que surgiu no Brasil em 1926.
É preciso lembrar que o teatro de revista era um entretenimento popular da época e seu gênero era teatro musicado e que imbuía em sua encenação cômica as novidades e acontecimentos sociais e políticos do momento.
A Companhia Negra de Revista pôs em cena os negros - copeiros, domésticos, estivadores etc. – que agora se tornavam verdadeiros artistas. Mesmo com toda a comicidade deste gênero de teatro, a Companhia fez com que a sociedade brasileira da época repensasse seus valores e a participação do negro, ou seja, impôs como elemento de destaque no entretenimento um segmento de sua população que há tempos era percebido apenas como obstáculo ao progresso e à modernização da nação. Percebemos que, mesmo tendo excelência em seus aspectos técnicos – marcações bem feitas, cenários luxuosos, músicas ágeis e dançantes -, a Companhia não conseguiu fugir ao expediente da cor.
A sociedade valorizava a Companhia por seus revisteiros serem negros, e além de um primoroso aspecto técnico, estes também eram donos de movimentos sensuais, lânguidos, exuberantes, ousados, mas ao mesmo tempo depreciava os empreendimentos da Companhia de Revista por ser negra. Isto chega ao ápice quando a Revista Negra, após conquistar alguns palcos brasileiros, foi convidada para se apresentar em Buenos Aires (Argentina), mas foi impedida pelo poder público. Segundo o entendimento do Ministério das Relações Exteriores este produto interno ao ser exportado, e consequentemente representar o Brasil em terras estrangeiras, seria entendido como um “atentado aos foros de nossa civilização”. O mesmo não aconteceu com a Pequena Notável, Carmem Miranda, que vendeu uma imagem irreal do Brasil, e principalmente das mulheres brasileiras.
Ainda que desprezados e considerados cidadãos de segunda classe, os afro-brasileiros não podiam mais ser ignorados como elementos formadores da sociedade, da cultura e da ‘civilização’ brasileira. Como bem lembrou Gomes, “estava nítido que a incorporação de símbolos negros na produção de um repertório sobre a nacionalidade começou a borrar a máscara branca –para inglês ver– do Brasil” (2006).
A Companhia Negra de Revista durou apenas até 1927, e mesmo tendo mexido com os conceitos brasileiros, sua contribuição não foi suficiente para colocar, de forma permanente, no centro da cena, artistas negros, que após a extinção da Companhia voltaram a ser espectros nos palcos.
Cansados dessa invisibilidade do cidadão e artista negro, o ex-senador Abdias do Nascimento e o múltiplo artista Solano Trindade, fizeram surgir em meados dos anos 40 o Teatro Experimental do Negro (TEN), mais precisamente em 1944.
O principal objetivo do Teatro Experimental do Negro, como consta em vários textos publicados sobre este grupo, era dar condições ao negro de levar aos palcos personagens livres dos estereótipos que foram sendo absorvidos e reproduzidos pelo teatro brasileiro. Mas como levar arte a um povo subjugado e desacreditado em seus direitos de cidadão contribuinte na construção do seu país? Então, paralelo ao trabalho teatral - que tinha como atores empregadas domésticas, poetas, pintores, advogados, militantes negros e outros -, o TEN organizou uma série de atividades de valorização social do negro no Brasil através da educação, da cultura e da arte. Segundo Müller (1988, pág. 14) “a atuação do TEN se desenvolveu em três níveis básicos: o teatral-artístico; o de organização-estudo, e o de iniciativas político-pragmática”, ou seja, além de formar artistas, este grupo de teatro, valorizou a estética, alfabetizou e politizou vários negros brasileiros.
O Teatro Experimental do Negro trouxe para a cena brasileira atores negros, e estes não atuavam apenas nos palcos, e sim em diferentes momentos da vida social, e não mais como coadjuvantes, mas como sujeitos de sua história. História esta que era escrita por eles, encenada por eles, coreografada por eles, lida por eles, iluminada por eles, vestida por eles, cenografada por eles, adereçada por eles, criticada por eles, vista por eles e por outros que tinham um olhar sensível e um senso crítico aguçado, que os faziam perceber e valorizar a importante contribuição negra na construção desta nação brasileira.
Tanto o Teatro Experimental do Negro, quanto a Companhia Negra de Revista me suscitam algumas perguntas: não teriam sido suas ações as primeiras formas de ações afirmativas, hoje tão em voga na cena brasileira? Os teatros Opinião e Arena não teriam bebido do teatro revolucionário proposto por estas iniciativas teatrais negras? O TEN não teria sido o precursor da Alfabetização de Jovens e Adultos (AJA) no Brasil? Não tenho respostas para estas perguntas, mas elas me levam a crer que há muito o silenciamento do movimento negro no Brasil vem deixando, cada vez mais, o negro e seus feitos na cena paralela.
É importante, antes de ir além, frisar que enquanto a Companhia Negra de Revista percorreu alguns estados brasileiros (Pernambuco, São Paulo, Bahia, e Rio Grande do Sul), o Teatro Experimental do Negro teve sua atuação basicamente no Rio de Janeiro, chegando a ter uma pequena atuação em São Paulo.
Os propósitos do teatro negro no Brasil, mesmo na cena paralela, criaram ramificações e perpassaram os tempos e os limites geográficos. No caso de Minas Gerais esses propósitos surtem efeito a partir dos anos 90, quando surge o primeiro grupo de teatro negro em Belo Horizonte: TEATRO NEGRO E ATITUDE (TNA). Mesmo sendo de diferentes épocas e linhas de trabalho, ambos os grupos se assemelham por colocarem no centro da cena artista e atores negros e todas as questões inerentes a esta parcela da população.
A idéia de se ter um grupo de teatro apenas com atores negros em Belo Horizonte surge em 1993, quando ativistas do Movimento Negro Unificado se reuniam para definir suas estratégias partidárias e panfletárias intuindo agregar associados ao movimento para chamar a atenção da sociedade para as questões dos negros, dos favelados e periféricos da cidade. Em 13 de junho de 1994, após um ano de maturação, o ativista negro Hamilton Borges, apresenta para a cidade o TEATRO NEGRO E ATITUDE (TNA), com uma cara partidária, panfletária e didática. Seu surgimento foi uma conjuração poética, uma rebelião estética, uma pancada, uma conspiração cênica para que negros e negras dessas Minas Gerais fossem protagonistas da suas histórias, que se encontrassem no centro da criação e, nesse processo, tivessem por referência uma visão de mundo afro-descendente. Em 1995, quando a Secretaria de Cultura de Belo Horizonte (hoje Fundação Municipal de Cultura), através do Centro Cultural Inter-regional Lagoa do Nado (CCILN), anunciou a implantação da Usina de Teatro, nascida para dar suporte técnico e pedagógico para grupos de teatro profissionais e semi-profissionais, o TEATRO NEGRO E ATITUDE, recém-nascido, logo se interessou em fazer parte desta experiência de descentralização e fomento da arte na periferia. Com passos firmes a Usina caminhou, estimulou e fortaleceu os grupos que atenderam o chamado. O TEATRO NEGRO E ATITUDE, com sua experiência, até então, partidária, panfletária e didática, entrou em conflito - se refez... se desfez - e como um Fênix, ressurgiu, mais forte, mais artístico, mais político, mas não mais partidário, panfletário e didático.
É obvio que o revigoramento do Teatro Negro no Brasil não é um fenômeno apenas mineiro, companhias e grupos vêm dando cor à cena teatral brasileira a partir dos anos 90, e estas dão continuidade às iniciativas dos anos 20, Companhia Negra de Revistas, dos anos 40 aos anos 60, Teatro Experimental do Negro, Teatro Popular Brasileiro, Grupo Brasiliana e Teatro Profissional do Negro - TEPRON, até hoje atuante. E como bem lembrado no I Fórum de Performance Negra, proposto pelo Bando de Teatro Olodum e Cia. dos Comuns, “para além de trabalharem em favor de uma mesma missão artística”, esses grupos e companhias contemporâneas, “compartilham dificuldades semelhantes. A escolha de repertório, a manutenção via patrocínio, a disponibilidade de pauta e o acesso aos meios de comunicação e ao público são quase sempre obstáculos, às vezes, intransponíveis”, o que nos deixa ainda, mesmo com todo o esforço de décadas, relegados à cena paralela.

Referências Bibliográficas
GOMES, Nilma Lino e MUNANGA, Kabengele. O negro no Brasil Hoje. São Paulo: Global, 2006.
MÜLLER, Ricardo Gaspar. Identidade e cidadania: o Teatro Experimental do Negro. In: Revista Dionysios, nº 29, 1988.
Artigo de Luiz Gustavo Freitas Rossi, publicado nos Cadernos Pagu, 2007.
I Fórum Nacional de Performance Negra, registrado no livro de mesmo nome por BAIRROS, Luiza e MELLO, Gustavo (Organizadores). Rio de Janeiro: Conceito, 2005.
Notas
(1)Ator, Diretor em Teatro, Educador Social, Pedagogo e integrante do Teatro Negro e Atitude, de Belo Horizonte.
(2) Nome dado a todas as pessoas que trabalhavam com teatro de revista.

Nascimento


PRETOS E VELHOS DA LEGIÃO

Clemência, Oscar, Paulo, Ivamar, Cândido, Maria Luiza, Alquatume, Zumbi, Chico Rei, N’zinga, Lelia, todos ali, formando uma legião. O que me faz querer sê-los? A sabedoria? A bravura? A dignidade? A determinação? O desejo pela liberdade? O amor pelos seus? Quero sê-los! Trago na tez toda uma historicidade que me possibilita, aguça meu desejo, ferve meu sangue, me faz ter ginga, me faz ser. Prostrados ali, acima de mim, estão estes pretos e velhos que regem minha cabeça, que comandam minhas tempestades, que acalmam meus rios e mares, que curam minhas doenças, que me fazem senhor das florestas, que guiam minha flecha única e certeira, que abrem meus caminhos, que me conduzem por toda uma transcendência. Ali, acima da minha cabeça, no meu peito, nas minhas costas, estão eles, pretos e velhos, protegendo-me para que eu vença o banzo desta rota atlântica não escolhida. São eles que me dão forças para erguer-me diante de todas as atrocidades cometidas contra meu povo no antes e no agora. É a imagem dessa legião enraizada nas suas crendices, nos seus ritos, nos seus cantos, nas suas adivinhações, nos seus temperos, nas suas rodas, nos seus jongos e lundus, que me faz querer ser essa cor preta e a carregar essa legião de pretos e velhos donos dos meus passos, dos meus movimentos, de todos os meus sentimentos e da minha ancestralidade.


evandro nunes,