sábado, 29 de maio de 2010

À Venda

Eu me vendo
Ou me troco por um beijo,
por juras de amor,
mesmo as falsas,
somente pelo desejo de ter alguém.

Mesmo tendo me acabado em orgias, em encontros furtivos, noturnos – como bicho fugido – e todas as outras leviandades possíveis e imagináveis, anuncio-me como produto novo. Semi-usado, melhor. Para ser bem aceito no mercado dispo-me das minhas Baby lokes, pulseiras, tiaras, óculos, e tudo mais que explicite a minha sexualidade. Me tranco num armário e trago a tona todas as minhas máscaras. Faço-me “discreto”, de pseudo hetero, e passo a abominar o sujeito que se assume e não se importa com os olhares alheios sobre ele. Visto-me de “normal”, e mesmo sendo “figura carimbada” nos “Darks Rooms” e lugares de “pegação”, na rua ridicularizo “gueis”, as bichinhas, os aboiolados, os afetados, os “guardadores de bolas”, os “frutas”, os “fanta”, os “mordedores de fronha”, os “engulidores de Kibe”, “os afiadores de cacetetes”, as trava etc... Me embrenho nas academias, clinicas de estéticas, me faço corpo sarado – sinônimo de másculo, macho. Atrofio minha autonomia de pensar. Enveredo-me nos Shoppings e faço da praça de alimentação, das boates e todas as outras futilidades, únicas perspectiva de vida e crescimento humano. Elejo as músicas que debocham de mim – “guei” – como música dos Deuses, e por isso incontestáveis. Comprometo-me a saber todas as coreografias e a me deixar levar sem contestar. Abdico da minha identidade, personalidade, cultura e me adequo ao mercado. Adequado às exigências alheias e Discriminatórias, Me coloco à venda somente pelo possessivo desejo de estar com alguém.

Vendo-me barato
ou
Me troco por um beijo,
juras de amor,
mesmo as falsas.