O tempo me fascina por ser eterno e efêmero. Em um dos textos de Becket, ele diz que com o passar do tempo não nos reconhecemos mais no passado, nos desejos daquele momento. Hoje me vejo, ou melhor, vejo fragmentos de mim e ainda me reconheço - meus desejos, minhas carências, minhas aflições, meus sonhos - mesmo sabendo que sou outro. Bom queria dividir com vocês estes pedaços de mim.
Beijos,
evandro nunes
Menina-pirraça
Lá vem ela –
Sem riso,
Com graça, -
Passo firme,
Quase avó,
Porém ‘enxutassa’.
Lá vem ela,
Hoje ‘cumadre’,
Antes aprontava:
Puxava-nos os cabelos;
Os braços, beliscava;
Boa pontaria - pedras voavam;
Garfada na perna;
Ferro quase na cara;
Copos voando;
Paciência...
Quase Nada.
Lá vem ela
Menina-pirraça:
Primeira filha,
Primeira neta,
Sobrinha adulada,
Muito franzina,
Cabelo ‘sararava’;
Menina esguia?
- não!
Barriga gestada.
Lá vêm nós –
Com risos,
Com graça –
Uma avó aos quarenta,
Outra menina /mãe antecipada,
Eu, tio avoado
Ou
Avô que tiava?
‘Vixe” que coisa confusa...
ah! Aline
essa peça foi bem pregada
às minhas meninas: Eliane (irmã), Aline (sobrinha) e Eduarda(sobrinhaneta)
evandro nunes
agosto de 2003
AMORES INVISIVEIS
Então estamos aqui:
Pés no chão,
Olhares atentos.
O trem apita!
Você ...
Na gravação me fala coisas lindas que retratam o agora:
- Agora tenho que ir, mas eu te amo.
... vai.
Então estou aqui:
Pés no chão,
Um olhar atento.
O trem apita. Para.
Você...
Na gravação você diz:
- hoje eu não posso ir,
Mas eu te amo.
... não veio.
evandro nunes
2004.
PRETOS E VELHOS DA LEGIÃO
Clemência, Oscar, Paulo, Ivamar, Cândido, Maria Luiza, Alquatume, Zumbi, Chico Rei, N’zinga, Lelia, todos ali, formando uma legião. O que me faz querer sê-los? A sabedoria? A bravura? A dignidade? A determinação? O desejo pela liberdade? O amor pelos seus? Quero sê-los? Trago na tez toda uma historicidade que me possibilita, aguça meu desejo, ferve meu sangue, me faz ter ginga, me faz ser. Prostrados ali, acima de mim, estão estes pretos e velhos que regem minha cabeça, que comandam minhas tempestades, que acalmam meus rios e mares, que curam minhas doenças, que me fazem senhor das florestas, que guiam minha flecha única e certeira, que abrem meus caminhos, que me conduzem por toda uma transcendência. Ali, acima da minha cabeça, no meu peito, nas minhas costas, estão eles, pretos e velhos, protegendo-me para que eu vença o banzo desta rota atlântica não escolhida. São eles que me dão forças para erguer-me diante de todas as atrocidades cometidas contra meu povo no antes e no agora. É a imagem dessa legião enraizada nas suas crendices, nos seus ritos, nos seus cantos, nas suas adivinhações, nos seus temperos, nas suas rodas, nos seus jongos e lundus, que me faz querer ser essa cor preta e a carregar essa legião de pretos e velhos donos dos meus passos, dos meus movimentos, de todos os meus sentimentos e da minha ancestralidade.
evandro nunes,
25 de julho de 2007.
CAÇADOR DE PIPAS
Hoje não quero brincar de ser!
Não quero ver a pipa azul correr no espaço,
guardando o segredo que é meu.
Não quero sonhar com o novo,
tendo o velho encravado em mim.
Não quero propor mudanças,
quando o que vejo a cada dia é um retrocesso.
Não quero seguir caminhando,
se não dou conta de mim.
Não quero continuar sorrindo,
quando o que quero é gritar e dizer que estou cansado de tudo.
Não quero me fazer de lúcido,
quando a loucura já me domina
e me faz vagar pela noite a procura de não sei o quê.
Não quero ser apaixonante ,
quando a solidão e a espera me secam.
Não quero ser notável,
quando sou ofuscado pelo que sou.
Hoje não quero brincar,
quero ser!
À Regina Lúcia, Valber Palmeira e Jair Conceição,
por me deixarem ser.
06/02/08
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
sábado, 22 de janeiro de 2011
CESSO!
Cesso!
Dessa boca não sai nenhuma rima,
Nesse corpo já não há mais gíria,
Esse olhos já não tem sabor.
Cesso!
As cadentes,
A Nova,
As rosas,
O Gira-sol.
Cesso!
A urgência de um amor me dói!
Não quero mai suportar,
Cesso!
Dessa boca não sai nenhuma rima,
Nesse corpo já não há mais gíria,
Esse olhos já não tem sabor.
Cesso!
As cadentes,
A Nova,
As rosas,
O Gira-sol.
Cesso!
A urgência de um amor me dói!
Não quero mai suportar,
Cesso!
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Assinar:
Postagens (Atom)