domingo, 27 de julho de 2014

Abril Despedaçado

Pacu!
O sonho é finito.
O tempo, às vezes,
passa na janela
e a gente não o vê.

Pacu!
As histórias se inventam,
A nossa nos conduz e
Mostra as cores que a vida
Ainda não havia mostrado,
e para vê-las é preciso ter coragem.
Têm Pacu?
Eu não,
Prefiro embrenhar nas
Minhas fantasias,
Ser subserviente,
Viver emparedado pelos meus sonhos
Sem ter a coragem de
Pular as barreiras pertinentes da vida.

Pacu!
Às vezes, prefiro não lembrar da historia minha,
Tento reinventá-la,
Pois não quero ficar nesta cama de bruços,
chorando sozinho,
abafando soluços.

Pacu!
É abril,
O sangue já amarelou.
Me empreste o chapéu,
A tarja preta e
Deixe que eu caminhe no seu lugar.

Pacu!
Diga a Lennon que
O sonho acabou.


Evandro Nunes
26 de dezembro de 2002.

PRETOPOETAPRETA

Preta
Palavra
Bela
Invisível
Ardendo
De Tempo
Em
Tempo
No
Peito
Preto
Do
Poeta
Preto
Heterogêneo
Poeta
Armado
Arranca
Suspiro do olhar
Lágrimas no dizer
Gosto ao tocar
Desejo em ouvi-lo pensar
Preto
Preta
É a mão que
Arranha o céu
Com estrelas cadentes
Caindo
Pedindo
Mas sem apontar
Preta
São as palavras
Grafadas
Pelo
Poeta
Preto:
- “Você me espera?”
- “Não.”


evandro nunes
12/08/01



Abdico de mim por querer-te.

LÁBIOS QUE NÃO BEIJEI

Seu perfume salino
Relança-me aos mais profundo
Desejos.
Aquele beijo...
A cama posta...
Corpos pipocados de calor.
Suas cristalinas ondas verdes
Faz-me navegar rumo ao forte, talvez a
História
Não contada a lazaro
-menino-homem-mulher-alusão.
Seus lábios não beijei
Fiquei
Na areia vendo a saliva dar de encontro
Com as pedras.
Seu corpo infinito aos meus olhos
Cercou-me de encanto:
Na barra, o farol;
Boa Viagem, o anzol;
Ponta de Areia , a estrada natural.
Seduzido não mais distinguo
Onde começa o céu
E onde termina lázaro-mar.

JOSUÉ

seu corpo dança
na balança
da gruta escura,
escorre,
perfura.
Durma, mas não volte!

Rone

Cai a água
banhando o corpo.
E o instante se fez
sem pressa,
sem culpa,
sem fim...
No ralo escore
a contenção do desejo-
válvula opressora -
mas, na memória da carne
ficam resíduos.
Caía a água
banhando o corpo.
Os corpos...
o mundo...
no box
...vida!

Rone I

A esfinge sorri
e
faz-se enigma.
Dos olhos é lançada a
maldição
putrificando o ar
com o cheiro de desejo.
Atordoado me perco
no seu corpo colossal
pronto para devorá-lo.

O cio, ás vezes, é letal:
corrói a alma,
domina a mente,
instiga o desejo voraz.

Sorrio,
e o instante se faz
sem pressa,
sem culpa,
sem fim...

GAROTO DE PROGRAMA



Você procura?
Olhe-me.
Você deseja?
Tenha-me.
Você quer?
Pague-me,
E serei seu.
...
Me exponho na multidão
A sua procura
Vou em guetos,
Pontos,
Sobre os pontos,
Pontos de encontros
E vejo-o a minha espera:
Jeans surrado,
Camisa transparente,
Sexy....
Sensual.
Com um olhar que diz:
- Eu sou seu,
Pague ou vá para os banheiros públicos
Olhar os pintos murchos dos que mijam,
Se excite
e
use a garrafa de sua Champagne.

...
Eu desejo,
Procuro.
Eu tenho,
Olho.
Eu quero,
Pago.
...

São 40 reais,
Não beijo na boca
E sou somente ativo.

...
Eu quero,
Procuro.
Eu desejo,
Olho.
Eu tenho,
Pago,
E uso-o como objeto e meu prazer.
...
Nãããããããããããããããããããoooooooooooooooooooo
...
OCORRÊNCIA: Foi encontrado morto, nu, num quarto de hotel um senhor distinto, pai de familia. O menino S.C. 16 anos é o único suspeito

Efêmero Desejo

UM

Havia sim, um único olhar,
Uma única respiração,
Seis únicas mãos,
Três corpos em ebulição
Dentro de uma mesma
Respiração.

Havia sim, um olhar cheirado,
Desejos sacramentados,
Gritos desesperados,
Sexo roubado,
Tapas ensaiados!

Sim, eu digo sim!
Quero sim:
Corrompe minha alma.
Dilacere meu peito,
Engravide meu corpo,
Aborte esta paixão!


Sim, há sim!
Quero sim!
Grito sim:
eu te amo porra! eu te amo!


Evandro Nunes
Pascoa, 2006

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Conjugar

eu amele ele amela ela amoeu ele amela ela amele Ih, sobrei! do livro pretopoetapreta evandro nunes

RISCO

De súbito me descuido. É o desejo reprimido que me faz não zelar por mim, por você, por nós. Feito meninos – troca, troco, destroco -, brincamos com nossos destinos e imprimimos em nossos corpos a confiabilidade cristã e as incertezas de vidas pagãs. Dói ter você em mim! Me dói não saciá-lo até o fim! Dói ser assim... descompromissado, não desejado, apenas acontecido. De súbito pu(e)to (e) não zelo por mim, por você, por nós. À geraldo c. Santos evandro nunes vila mariquinhas páscoa, 2006.

Pouca Cinza

Hoje não rio! No metrô, o choro abundante, Domina meu corpo, Cessa meus sentidos. Hoje não rio! Há uma saudade. Uma precoce nostalgia me permeia. Hoje não rio! A sessão não tem graça, As horas não passam. Hoje não rio! Meu sorriso você levou na mochila limpa que eu lavei. À Jonathan Junio Gomes Santos evandro nunes 18/03/2013

Programa

No meio do caminho Encontro você. Com gana de grana, Falo Grosso, Te espanto. No meio do caminho Me encontro, Com gana na grana Dos clientes Do puto Que espantei Do ponto Ao falar grosso. evandro nunes – 04/09/05

A BANDA

O colorido invade as ruas, Lindas vozes, Gente bonita. O arco-íris dá o tom! De longe, Te vejo, Te desejo. O “batidão” toma conta, Você dança, Me encanta. A militância dá o grito de guerra, Me armo! Seu cheiro barato me seduz. Me entrego, A dor invade, Resisto... Ofegantes Nos entregamos ao espasmo. Durmo... Acordo sozinho num quarto de motel barato, Sem dinheiro, Sem carteira, Sem se quer saber seu nome. Me visto Depressa, Ainda ouço, do quarto ao lado, Chico cantando a banda entremeios a vários gritos de orgasmo. Saio! A Banda do Trio passa – Sem luz, Sem graça – O arco-íris dá o tom. Sigo, Agora só! evandro Nunes 11/07/05