quarta-feira, 29 de junho de 2011

ópio

O cheiro avassalador que emana do seu ãmago traça meu caminho, incandesce meus olhos, ritma meu pulso, desestrutura meu raciocinio, domina minha alma.

25/06/2011
evandro nunes

TRAVESSIA

De longe se vê a multidão vindo amontoada em pequenos espaços. No antes eram reis, rainhas, pescadores, ferreiros, donos de terras, lavradores, curandeiros, griot’s, pai de familia, guerreiros; agora sem distinção, apenas corpos negros subjulgados, Maltrapilhos, Maltratados, sem familia, acorrentados, sem liberdade, míseros escravos. Nos Negreiros que avançam a dor aguda unissona era amordaçada, a loucura livremente caminhava, tomava corpo, ganhava força, e ,a mãe com o filho no colo, pulava. Porém nada abalava, os Negreiros eram firmes, o chicote no ar ressoava e o trajeto avançava. Os Orixás atónitos, alguns choravam, reunidos no Orum criando estratégias para a batalha que começava. De decisão tomada a proteção aos seus filhos se iniciava: Yansã o vento soprava; Yemanjá nas suas águas levava; Exu na proa guiava; Omolu aos doentes curava; Nanã as dores amenizava; Oxalá, Oxossi, Xango, Ogum, Oxum, Oxumaré, Tempo em terra firme esperavam. Ao seus filhos não abandonavam, sabiam que eram fortes, bravos, dedicados, e, em questão de tempo, uma nova nação, por eles, seria recriada. A travessia, dura, fria, terminava. A primeira batalha fora vencida, a segunda, em terras nativas, apenas começava. No Orum os Orixás reunidos, olhavam para seu povo aguerrido e de prantidão esperavam.

25/06/2011
evandro nunes